quarta-feira, dezembro 11, 2002

No primeiro ano de faculdade descobri a arte. No terceiro ano descobri a arte como comunicação.

A comunicação tornou-se o objetivo principal do meu fazer artístico: uma relação entre pensamentos, entre corpos, entre objetos. A comunicação como uma relação contínua entre ação e reação. Sobre este entre, penso muito numa citação de Hannah Arendt: “…o homem é a-político. A política surge no entre-os-homens, portanto, totalmente fora dos homens”.

A política de que fala Arendt é uma política de relação. Quando penso em arte, mas principalmente no meu trabalho e processo de criação artística, penso em como transpor o conceito de política de Arendt para a arte. É neste sentido que penso a arte “entre-os-homens”.
Sinto necessário um meio-termo, busco por um meio-termo. Por isso, durante um processo de amadurecimento, encaminhei-me a pensar sobre o público.

Usar o termo público necessita de um certo cuidado, como retrata Jurgen Habermas:
“Chamamos de ‘públicos’ certos eventos quando eles, em contraposição às sociedades fechadas, são acessíveis a qualquer um – assim como falamos de locais públicos ou de casas públicas. Mas já falar de ‘prédios públicos’ não significa apenas que todos têm acesso a eles; eles nem sequer precisam estar liberados à frequentação pública; eles simplesmente abrigam instituições do Estado e, como tais, são públicos. (…) A palavra já tem um outro significado quando se fala de uma ‘recepção pública’; em tais ocasiões, desenvolve-se uma força de representação, em cuja ‘natureza pública’ logo entra alguma coisa de reconhecimento público. A significação também se desloca quando dizemos que alguém alcançou renome público; o caráter público do renome ou ate da fama se origina de outras épocas que não as da ‘boa sociedade’.”

E citando Elizabeth Young-Bruehl sobre a filosofia política de Hannah Arendt:
Os homens podem laborar ou trabalhar na solidão mas, se o fazem, não percebem suas qualidades especificamente ‘humanas’; eles são como as bestas de carga ou como demiurgos divinos. Os homens não podem, por outro lado, agir na solidão. A pluralidade é o ‘sine qua non’ da ação. A ação é dependente da presença constante de outros, requer um espaço público.

Quando penso em público, penso em um público plural, talvez numa relação entre-a-arte-e-os-homens. Sei que em todos os segmentos de uma sociedade podem ter pessoas abertas a uma relação com a arte, seja qual for a sua forma. Através de minha experiência de vida pude constatar isso; desde estar em contato com pessoas que não pertencem ao “mundo da arte” à minha atividade como DJ, que desde 1998 proporciona-me uma vivência da comunicação e de fruição pelo público de modo mais abrangente.

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