quinta-feira, janeiro 29, 2009

terça-feira, janeiro 27, 2009

Reflexões sobre a performance
Fernando Ribeiro
Artigo publicado no Jornal Gazeta do Povo,
Caderno G - Idéias, no dia 06 de setembro de 2008.


A performance art é, hoje, o meio artístico que proporciona uma maior experimentação por parte do artista. Por possuir uma estrutura aberta, ela pode englobar as mais diversas expressões, técnicas e tecnologias em um trabalho artístico. Tais possibilidades acabam, por isso, dificultando sua definição exata. Permanece constante a pergunta: mas o que é performance art?

A preocupação em definir performance art está em fechar seu conceito ou limitá-la. Realmente, é uma preocupação substancial, pois é uma característica sua não possuir regras ou limites prévios. Quem os dá é o artista quando cria; ou seja, cada performance terá suas próprias regras e seus próprios limites individuais. Isso pode passar a impressão de caos, de confusão, de que cada artista assim define o seu trabalho como performance por pura liberdade poética ou por convenção. Pois eu afirmo que não.

Todas as performances possuem, sim, elementos em comum, que aqui denomino elementos necessários. Por mais diversos que sejam seus temas, seus conteúdos, suas técnicas, esses elementos necessários são constantes e auxiliam a identificar um trabalho. Chamo de elementos necessários: o corpo, a ação, o público, o espaço e o tempo. Agora cabe explicá-los melhor.

O corpo não é apenas matéria ou material do artista, mas é o próprio artista, sua subjetividade. É no corpo que se encontra sua linguagem, seus signos, suas relações psicológicas, políticas e sociais. Por mais que o artista trabalhe com outros corpos, outras pessoas, é a sua idéia de corpo que opera dentro da performance. Assim, performance sempre é um direcionamento do artista para fora.

A ação é o que direciona a performance para o campo da comunicação. O corpo é a linguagem, a ação é a comunicação. A ação sempre produz significação aos outros; ela sempre tende ao diálogo. O artista não atua, age. Não é uma imitação ou representação: é ação viva, pura e simplesmente. A ação mais simples, como levantar um braço ou o modo de direcionar um olhar, já é significante. Até mesmo ficar parado, estático, define-se como ação. Negar-se a agir é uma atitude significante.

O público é a pluralidade das pessoas, e é com ela que a performance dialoga. O público sempre será uma incógnita a cada performance, pois não é massa, não é definido. São pessoas, cada uma com sua individualidade, sua vivência, suas experiências, se relacionando com o artista. Este não precisa tocar o público, fazê-los interagir de maneira direta para criar o diálogo. É por intermédio da ação, do corpo, seja distante ou próximo do público, que se cria uma relação. É a presença do público que possibilita o diálogo.

O espaço da performance é aquele que o artista denomina como tal. Todo e qualquer espaço permite as mais variadas possibilidades de desenvolvimento de uma performance, e o artista tem ciência disso. Por isso é possível que uma mesma performance aconteça em ruas, praças, espaços fechados ou mesmo galerias de arte e museus. O espaço fará parte da performance . Ele é absorvido, recomposto e reestruturado por ela.

Por fim, o tempo, que é essencial à performance. A”obra de arte” está no seu desenvolvimento temporal; é processo, é presente, momento, instante. No decorrer da performance, o artista opera o tempo, em si e no público, cria momentos, situações, acontecimentos. A partir da ação cria-se uma nova lógica temporal, que se extinguirá ao fim do seu trabalho, transportando a performance do presente para o passado, da experiência viva à memória.

Todos esses elementos necessários são realmente constantes. Mesmo existindo performances com mudanças estruturais, como a transferência da ação do artista para o público ou a midiatização do público, como é o caso da vídeo-performance, sempre teremos as relações de corpo, ação, público, espaço e tempo.

Para finalizar, é importante pontuar aqui uma característica que acredito ser essencial para um trabalho ser performance. Hoje vemos muitas intervenções urbanas e diversos trabalhos que podem possuir os elementos necessários citados acima, mas que não são necessariamente performance. Pois bem, acredito que exista uma intenção de performance, ou seja, a consciência do artista de produzir a significação do seu trabalho a partir da ação proposta. Em performance, a significação é construída no agir temporal, no presente da ação, e não somente no ato. Exemplificando: um artista faz uma intervenção urbana pendurando espelhos em árvores de uma praça. Será possível considerar performance se a ação dele — o pendurar os espelhos na árvore — for o fator significante do seu trabalho. Nesse caso, os espelhos pendurados nas árvores, após a ação propriamente dita, são resquícios da performance. No caso contrário, os espelhos nas árvores são o fator de significação e a ação foi apenas um meio necessário e sem peso significativo para o trabalho. Ou seja: não se configura uma performance.



Fernando Ribeiro, é artista da performance e DJ, cursa a Especialização em Estética e Filosofia da Arte na UFPR e ministra o curso “Performance Art nas Artes Visuais” no Centro Cultural Solar do Barão.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

para não dizer que esse blog morreu... lá vamos nós novamente...

se alguém meio doido resolver pesquisar esse blog, vai descobrir que as coisas mais sérias que já escrevi por aqui foi sobre performance... acho que são poucas, mas estão lá...

e por esse quesito mais sério que acredito que nada mais escrevi por aqui... não por não querer divulgar... mas mais por centralizar idéias, remoer, pensar, estudar, etc. Hoje mais do que nunca a seriedade referente ao assunto é bem maior.

E iniciei o ano mais disposto quanto ao assunto. Estou tocando ele dentro da especialização que estou cursando em filosofia. Estou muito feliz de conseguir levar o tema da performance para lá, pois meus estudos teóricos sobre o assunto sempre envolveram tal campo de estudo. Além disso tem os cursos de performance que comecei a ministrar no Solar do Barão, aqui em Curitiba. Ajudaram-me bastante a organizar as idéias e o conhecimento que adquiri em todo esse tempo.

É... já são 9 anos que comecei a me envolver com a performance art... e ainda parece que foi ontem... está na hora de produzir... não somente performance... mas textos teóricos sobre o assunto... quem sabe o que eu tiver de mais sólido não trago por aqui, quem sabe?