segunda-feira, novembro 17, 2003

quanto a performance abaixo... que apresentei em BH... e aos comentários... gostaria de falar sobre a nudez... não considero a nudez como um ato corajoso. Na realidade, nas artes visuais (e principalmente na performance), é praticamente normal ver a nudez. E isto também pode ser um problema, pois a generalização de um ato pode se tornar, facilmente, a banalização deste próprio ato. E o estar nu pode se tornar algo espetacular, assim, perdendo todo o poder de significação proposta pelo autor.

O fato é que se apresentar nu é algo que acarreta muitos significados. Desnudar em público, mais ainda.

Quanto ao meu trabalho abaixo, o estar nu tem a sua proposta extremamente definida. A criação da performance partiu de meus trabalhos "Pinturas Monotipadas", onde misturo pintura com monotipia. A partir de uma proposta voltada para um trabalho mais "autobiográfico", comecei a pensar nas Pinturas... o que nelas poderia ter de mais autobiográfico... e era a ação, não somente de pintar, mas também da monotipia.

Pensei na performance, criando-a, e pensei em como poderia ampliar a ação de transferir a tinta, de fazer a monotipia... ou seja... criei dois momentos o de pintar, depois a da monotipia... e a escolha de me jogar nu contra a tela foi devido a 2 fatores:

1. questão prática e material: a probabilidade de, vestido, transferir a tinta da tela pintada para a tela crua, poderia ser bem menor, devido a aderência da tinta ao tecido;

2. questão de significação: como nas sacolas, eram as minhas ações que transferiam a tinta de uma base a outra, necessitava que isso fosse feito por mim, no caso, representado pelo meu corpo. A entrada da vestimenta, seja qual ela fosse, poderia acarretar numa modificação da significação relacionada ao ato, pois ao invés de transferir a tinta, ela se tornaria um novo elemento, e um elemento formal visual aparte da performance e do ato. Então, escolhi me jogar nu.

Acho que deixo claro que a nudez não é a questão principal do trabalho, quando parto da primeira parte do trabalho (o pintar) para a segunda (a monotipia): eu saio da sala para tirar a roupa. Como disse acima, ficar nu em público tem sim um poder de significação imenso e que não tinha nada haver com o meu trabalho. Eu não tinha que mostrar que eu ficava nu, a performance tinha dois momentos e um vão necessário entre eles.

E só para deixar claro, a questão do autobiográfico neste trabalho não é a nudez, mas sim a força que utilizo, tanto para pintar, quanto para me jogar de uma tela a outra.

bem... acho que por enquanto é só... depois coloco uma nova foto aqui!

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